Este blog visa resgatar e/ou preservar pérolas da MPB. Buscamos enriquecer as informações com o histórico das canções e algumas informações que possam agradar aqueles que buscam aumentar sus conhecimentos sobre a fantástica música brasileira, bem como seus compositores e intérpretes.
"Triste Berrante" foi composta por Adauto Santos (1940-1999) e incluída em seu disco homônimo lançado em 1978.
Esta música, ícone do cancioneiro regional brasileiro, foi regravada por muitos artistas brasileiros, como as Irmãs Galvão e a dupla Pena Branca e Xavantinho.
Adauto Santos
Sucesso popular, também chegou à televisão como tema da novela "Pantanal" (1990 - Adauto Santos e Solange Maria), folhetim que fez enorme sucesso na tv brasileira.
TRISTE BERRANTE (Adauto Santos)
Já vai bem longe esse tempo bem sei Tão longe que até penso que eu sonhei Que lindo quando a gente ouvia distante O som daquele triste berrante E um boiadeiro a gritar Eiá! E eu ficava ali na beira da estrada Vendo caminhar a boiada Até o último boi passar Ali, passava boi, passava boiada tinha uma palmeira na beira da estrada onde foi cravado muito coração Mas sempre foi assim E sempre foi assim E sempre será O novo vem e o velho tem que parar O progresso cobriu a poeira da estrada E esse tudo que é o meu nada Hoje tenho que acatar E chorar Mas mesmo vendo gente, carros passando Meus olhos estão enxergando Uma boiada a passar.
O choro "Tico-tico no Fubá" é uma composição original de Zequinha de Abreu(1880-1935) do ano de 1917. Posteriormente, em 1931, recebeu letra criada por Eurico Barreiros e Aloysio de Oliveira (1914-1995).
A música foi um dos maiores sucessos da década de 1940 e fez parte da trilha sonora de cinco filmes americanos: "Alô Amigos", "A Filha do Comandante", "Escola de Sereias", "Kansas City Kity" e "Copacabana", quando o choro foi cantado por Carmen Miranda.
Zequinha de Abreu
Em 1917, durante um baile na cidade de Santa Rita do Passa Quatro, Zequinha apresentou um choro e ficou surpreso com a reação entusiasmada dos pares de dança. Batizou a música de "Tico-Tico no Farelo", mas, como já existia um choro com o mesmo nome na época (composto por Américo Jacomino), resolveu pôr "Tico-Tico no Fubá". Apesar da boa acolhida, o choro só seria gravado quatorze anos depois, pela Orquestra Colbaz, dirigida pelo maestro Gaó. Interpretada por dezenas de artistas, tornou-se um dos maiores sucessos da música brasileira no século 20, inclusive no exterior.
A partir de então, recebeu dezenas de gravações, tornando-se uma das músicas brasileiras mais gravadas de todos os tempos, no país e no exterior, salientando-se entre seus intérpretes a organista Ethel Smith, que a levou ao hit-parade americano.
Aloysio de Oliveira
Sua gravação de maior sucesso foi a de Ademilde Fonseca.
Dezessete anos após a morte de Zequinha, os cineastas Fernando de Barros e Adolfo Celi e a Companhia Vera Cruz homenagearam o compositor com o filme "Tico-Tico no Fubá" (1952) com Anselmo Duarte e Tônia Carrero nos principais papéis.
Fonte: UOL Educação.
TICO-TICO NO FUBÁ
(Zequinha de Abreu / Eurico Barreiros / Aloysio de Oliveira)
Primeira Parte
Um tico-tico só,
Um tico-tico lá,
Está comendo
Todo, todo meu fubá.
Olha, Seu Nicolau,
Que o fubá se vai,
Pego no meu pica-pau
E um tiro sae.
Coitado...
Então eu tenho pena
Do susto que levou
E uma cuia se ia,
Mais fubá eu dou.
Alegre já,
Voando, piando,
Meu fubá, meu fubá,
Saltando de lá pra cá.
Segunda Parte (Declamado)
Tico-tico engraçadinho
Que está sempre a piar,
Vá fazer o teu ninho
E terás assim um lar.
Procure uma companheira
Que eu te garanto o fubá,
De papada sempre cheia
Não acharás a vida má.
Terceira Parte
Houve um dia lá
Que ele não voltou,
E seu gostoso fubá
O vento levou.
Triste fiquei,
Quase chorei,
Mas então vi
Logo depois,
Já não eram um,
Mas sim já dois.
Quero contar baixinho
A vida dos dois,
Tiveram seu ninho
E filhotinhos depois.
Todos agora
Pulam ali,
Saltam aqui,
Comendo sempre o fubá
Saltando de lá para cá.
"Vapor Barato" é uma composição de Jards Macalé (1943) e Waly Salomão (1943-2003).
A canção serviu como fundo musical para dois difíceis momentos da história brasileira - de exílio forçado ou voluntário - e ambos com a marca de Plutão.
Em dezembro de 1971 é lançado o disco Gal: Fa-Tal, a Todo Vapor. Com os tropicalistas Caetano Veloso e Gilberto Gil no exílio, isto é, em Londres, Gal Costa se transformara na voz deles e de outros "estrangeiros" no Brasil. E é com este disco que "Vapor Barato", de Waly Salomão e Jards Macalé, na voz de Gal, se torna uma espécie de "olha, aqui tá todo mundo muito vivo". Embora revelando um coração cansado.
Jards Macalé
A ditadura militar corria solta no Brasil. Assim como em outros países da América Latina. O Ato Inconstitucional nº 5, o AI-5, que cerceara os direitos políticos e a liberdade de imprensa, comemorava três aninhos (13 de dezembro de 1968). Filhos do Brasil ou morriam misteriosamente nos subterrâneos do regime ou foram ou eram "convidados" a se retirar do país. "Vapor Barato" era uma espécie de recado para os generais e um cartão-postal além-mar.
Vinte e quatro anos depois essa mesma canção renasce para ilustrar outro período na história do Brasil: o do êxodo de inúmeros jovens ao exterior com o intuito de fugir do arrocho econômico que assolara o país.
Em 1995, Walter Salles lança o filme "Terra Estrangeira", no qual, com fotografia em preto e branco, passava a limpo os momentos do recente e colorido governo Collor. Em 1989, Fernando Collor de Melo tornara-se o primeiro presidente eleito por voto direto desde a ditadura militar. O Brasil, mergulhado numa inflação sem tamanho, elegia um quase desconhecido envolto numa aura de salvador. A sua falsa fama de caçador de marajás encorajou a população brasileira a creditar nele suas esperanças. Na primeira semana do seu mandato, a fim de solucionar os problemas financeiros do país, anuncia uma série de medidas, entre elas o confisco do dinheiro depositado em cadernetas de poupança. Era o começo de um verdadeiro pesadelo.
Waly Salomão
Após o confisco das cadernetas de poupança, os brasileiros recomeçaram a fuga do país, a fim de tentar a sorte. Os versos "e vou tomar aquele velho navio/ Eu não preciso de muito dinheiro/ E não me importa, honey" ganhavam outro contexto. E o destino de sempre: o estrangeiro. No caso do filme, mais especificamente, Portugal. "A língua é minha pátria/ e eu não tenho pátria: tenho mátria/ e quero frátria" (Caetano Veloso, em "Língua").
"Terra Estrangeira" não é um simples documentário. Muito menos um filme político, no sentido restrito do termo. Na verdade, trata da experiência humana em busca de um lugar existencial. Seja lá onde for. "Vapor Barato" surge no filme na voz da personagem Alex (Fernanda Torres), a capela, sem palco. A atriz revelou, inclusive, que a canção entrou no filme pela porta do inesperado. O diretor, ao ouvir Fernanda cantarolar a canção nos intervalos das filmagens, logo a incluiu em cena. Logo depois a canção vira sucesso com o grupo O Rappa.
Curioso que o filme retrate o envolvimento dos protagonistas com o tráfico de drogas e Vapor Barato seja o nome de um traficante entre tantos nos morros do Brasil. Embora o envolvimento dos primeiros possa ser entendido como uma questão de sobrevivência. Caetano Veloso faz referência ao traficante na canção Fora da Ordem ("Circuladô").
Se, em 1971, Vapor Barato, ao se referir ao terror dos anos anteriores, se tornou um marco entre as canções que iniciavam a trilha sonora em busca da volta dos direitos democráticos, em 1995 terapeutizava os desmandos da era Collor.
VAPOR BARATO (Jards Macalé / Waly Salomão)
Oh, sim, estou tão cansado Mas não pra dizer que eu não acredito mais em você Com minhas calças vermelhas, meu casaco de general Cheio de anéis, eu vou descendo por todas as ruas E vou tomar aquele velho navio Eu não preciso de muito dinheiro E não me importa, Honey Baby, baby, honey baby...
Oh, sim, eu estou tão cansado Mas não pra dizer que estou indo embora Talvez, eu volte, um dia eu volto Mas eu quero esquecê-la, eu preciso Oh, minha grande, oh, minha pequena Oh, minha grande, minha pequena obsessão Eu vou embora naquele velho navio E não me importa, honey, Baby, baby, honey baby...
A toada “Tocando em Frente” é uma composição de Almir Sater (1956) e Renato Teixeira (1945) lançada no ano de 1990.
Segundo os compositores a música parece ter sido até uma inspiração espiritual, já que foi composta em um espaço de tempo mínimo. A dupla afirma que foi a canção que eles compuseram mais rapidamente. Apesar de compor na primeira pessoa, Renato diz que raramente alguma de suas músicas é autobiográfica. Uma que parece ser, " Tocando em frente", foi feita em cima de ditos populares, daí versos como "Ando devagar porque já tive pressa/ E levo esse sorriso porque já chorei demais/ Hoje me sinto mais forte, mais feliz, quem sabe/ Eu só levo a certeza de que muito pouco eu sei". - É uma coisa que tem muito a ver com a cultura brasileira, os ditos populares. Aquelas frases que são colocadas em placas na parede - explica.
Almir Sater
Em apresentação no programa Viola Minha Viola da TV Cultura de São Paulo, Almir Sater questionado por Inezita Barroso no que ele se inspirou para fazer a música, este respondeu que tinha ido jantar na casa de Renato Teixeira, pegou um violão do filho de Renato que estava encostado e começou a dedilhá-lo. Neste ínterim, veio em sua cabeça uma melodia e Renato começou a escrever a letra.Também conta Almir que ele recebeu uma ligação telefônica (sem citar quando) de Maria Bethânia, que até então não a conhecia, perguntando se ele tinha uma música para ela gravar. Respondendo, disse que tinha acabado de fazer uma música mas que Renato Teixeira iria gravá-la. A seu pedido, ele cantou "Tocando em Frente" no telefone e Bethânia lhe disse que "essa música é minha".
Renato Teixeira
A música esteve presente na trilha sonora das novelas “Pantanal”(1990 – Maria Bethânia) e Prova de Amor”(2005/2006 – Maria Bethânia) e do filme "O Menino da Porteira" (2009 - Daniel).
TOCANDO EM FRENTE (Almir Sater / Renato Teixeira)
Ando devagar porque já tive pressa Levo esse sorriso porque já chorei demais Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe Só levo a certeza de que muito pouco eu sei Eu nada sei
Conhecer as manhas e as manhãs, O sabor das massas e das maçãs, É preciso amor pra poder pulsar, É preciso paz pra poder sorrir, É preciso a chuva para florir
Penso que cumprir a vida seja simplesmente Compreender a marcha e ir tocando em frente Como um velho boiadeiro levando a boiada Eu vou tocando os dias pela longa estrada eu vou Estrada eu sou
Conhecer as manhas e as manhãs, O sabor das massas e das maçãs, É preciso amor pra poder pulsar, É preciso paz pra poder sorrir, É preciso a chuva para florir
Todo mundo ama um dia, todo mundo chora, Um dia a gente chega, no outro vai embora Cada um de nós compõe a sua história Cada ser em si carrega o dom de ser capaz E ser feliz
Conhecer as manhas e as manhãs O sabor das massas e das maçãs É preciso amor pra poder pulsar, É preciso paz pra poder sorrir, É preciso a chuva para florir
Ando devagar porque já tive pressa E levo esse sorriso porque já chorei demais Cada um de nós compõe a sua história, Cada ser em si carrega o dom de ser capaz E ser feliz.
O samba-canção “Ternura Antiga”(1960) é uma composição do maestro José Ribamar (1919 / 1987) e de Dolores Duran (1930 / 1959).
A canção foi composta após o falecimento de Dolores Duran, musicada pelo maestro José Ribamar. Ribamar precisava de uma canção para participar do Festival do Medina, “Um Milhão Para Uma Canção”. Foi então à casa de Dolores Duran e pediu à Marisa Gata Mansa, grande amiga de Dolores, uma música, poema ou soneto que Dolores houvesse deixado. Várias letras foram então dadas ao maestro, dentre elas, “Ternura Antiga”. Há uma versão também de que Marisa é que procurou o maestro com os poemas. O maestro então musicou e participou com ela do Festival. A canção conquistou o segundo lugar, defendida pela cantora Lucienne Franco. Mais tarde foi gravada, com grande sucesso, por Tito Madi.
Maestro José Ribamar
Curioso saber que a gravação de Lucienne Franco foi o "lado B" do disco, que possuía como "lado A" a canção "Poema do Adeus", interpretada por Miltinho. A canção esteve presente na trilha sonora da novela "Os Imigrantes - Terceira Geração" (1982- Altemar Dutra).
Dolores Duran
TERNURA ANTIGA (Jose Ribamar / Dolores Duran)
Ai, a rua escura, o vento frio Esta saudade, este vazio Esta vontade de chorar
Ai, tua distância tão amiga Esta ternura tão antiga E o desencanto de esperar
Sim, eu não te amo porque quero Ai, se eu pudesse esqueceria Vivo, e vivo só porque te espero Ai, esta amargura, esta agonia.
A canção “Tente Outra Vez” é uma composição de 1975, de Raul Seixas (1945/1989), Paulo Coelho (1947) e Marcelo (Ramos) Motta (1931/1987).
Segundo Luciano Lopes, de acordo com o comentário postado pelo próprio no dia 3 de março de 2017: "VERDADEIRO PARCEIRO DE RAUL SEIXAS EM TENTE OUTRA VEZ, A PSEUDO PARCERIA COM PAULO COELHO E MARCELO MOTTA FOI CELEBRADA EM PLENA DEPENDÊNCIA QUÍMICA DA DROGA. TENHO AÇÃO NO FÓRUM DO RIO DE JANEIRO PELO RECONHECIMENTO. RAUL PASSOU OS MEUS 50% PARA OS NOMES DOS CARAS, AÍ AMIGOS DEIXOU DE SER LOUCURA PARA SER DOLO. ALIÁS, MALUCO BELEZA, RAUL SEIXAS, PAULO COELHO E MARCELO MOTTA EM MUITOS MOMENTOS DA VIDA FORAM MALUCOS COM CERTEZA. MAIS DETALHES ACESSANDO YOU TUBE: LUCIANO LOPEZ DEDILHANDO. É INTERESSANTE VER O CLIPE COM CALMA."
Ainda de acordo com Luciano, "Tente Outra Vez" é o único manuscrito de Raul em forma de rascunho e a canção possui uma maior que a versão gravada.
Raul Seixas
É bem conhecida a história de que Chitãozinho & Xororó, prestes a desistirem da carreira devido às dificuldades, ouviram a música “Tente outra vez” e resolveram continuar.
Paulo Coelho
Com o uso da música "Tente Outra Vez", foi veiculada em 2004 uma campanha publicitária visando resgatar a auto-estima do brasileiro. A campanha mostra histórias individuais de sucesso e superação como a do jogador de futebol Ronaldinho e do músico Herbert Vianna. Mas exibe também a trajetória vitoriosa de cidadãos comuns, como o mineiro Roberto Carlos Ramos, menino de rua que fugiu 132 vezes da Febem, foi adotado por uma professora francesa, reabilitou-se, formou-se em pedagogia e hoje cuida de 12 crianças.
TENTE OUTRA VEZ (Raul /Seixas / Paulo Coelho / Marcelo Motta)
Veja! Não diga que a canção Está perdida Tenha em fé em Deus Tenha fé na vida Tente outra vez!... Beba! (Beba!) Pois a água viva Ainda tá na fonte (Tente outra vez!) Você tem dois pés Para cruzar a ponte Nada acabou! Não! Não! Não!... Oh! Oh! Oh! Oh! Tente! Levante sua mão sedenta E recomece a andar Não pense Que a cabeça agüenta Se você parar Não! Não! Não! Não! Não! Não!... Há uma voz que canta Uma voz que dança Uma voz que gira (Gira!) Bailando no ar Uh! Uh! Uh!... Queira! (Queira!) Basta ser sincero E desejar profundo Você será capaz De sacudir o mundo Vai! Tente outra vez! Humrum!... Tente! (Tente!) E não diga Que a vitória está perdida Se é de batalhas Que se vive a vida Han! Tente outra vez!...
"Tortura de Amor" é um bolero composta por Waldik Soriano(1933-2008) em 1962.
Waldik Soriano
A canção foi composta ainda no interior da Bahia (Caetité), como diz o próprio Waldik a respeito de “Tortura de Amor”: “O poeta sempre tem uma tristeza interior, ele compõe e muitas vezes não sabe o porquê. No lugar que eu morava eu achava que não era o meu lugar. E era muito difícil sair.”
Waldik Soriano
Os versos, considerados por muitos brega, narram as dores de uma história de amor. No entanto, algum gênio do regime militar achou que a referência à tortura era mensagem cifrada de subversivo e a censurou em 1974.
Tornou-se grande sucesso na voz do cantor. Depois ganhou releituras nas vozes de Nelson Gonçalves, Fagner, Fafá de Belém, Maria Creuza e o grupo português Clã, entre outros.
Waldik Soriano
“Tortura de Amor” esteve presente na trilha sonora das novelas “Gabriela” (1975 - Waldik Soriano) , "Vidas em Jogo" (2011/2012 - Alexandre Arez) e do Filme "Paraíso Perdido (2018 - Seu Jorge e Jaloo)
TORTURA DE AMOR
(Waldick Soriano)
Hoje que à noite esta calma,
E que minh'alma esperava por ti,
Apareces-te afinal, torturando,
Este ser que te adora,
Volta, fica comigo, só mais uma noite,
Quero viver junto a ti,
Volta meu amor, fica comigo,
Não me desprezes a noite é nossa,
E o meu amor pertence a ti,
Hoje eu quero paz, quero ternura,
Em nossas vidas, quero viver,
Por toda vida, pensando em ti.
Volta, fica comigo, só mais uma noite,
Quero viver junto a ti,
Volta meu amor, fica comigo,
Não me desprezes, a noite é nossa,
E o meu amor pertence a ti,
Hoje eu quero paz, quero ternura,
Em nossas vidas, quero viver,
Por toda vida, pensando em ti.
O samba “Volta por Cima” foi composto pelo paulista Paulo Vanzolini (1924-2013) no ano de 1960.
Em 1962, mostrou o samba a Inezita Barroso, que preferiu não gravá-lo por lhe parecer pouco comercial. Contrariando a opinião de Inezita, lançado naquele mesmo ano pelo cantor Noite Ilustrada em disco Philips, o samba "Volta por Cima" tornou-se sucesso em todo o Brasil. Antes de ser gravado já era conhecido em boates paulistanas como "o samba do Vanzolini". Desde o sucesso do samba, "dar a volta por cima" passou a ser uma expressão recorrente no vocabulário popular, como consta no Dicionário Aurélio: "Dar a volta por cima. Superar uma situação difícil: 'ali onde eu chorei/ qualquer um chorava/ Dar a volta por cima que eu dei/ quero ver quem dava". Na década de 1960, era comum ouvir seus sambas na Boate Jogral, em São Paulo, cujo proprietário era o músico, parceiro e amigo Luís Carlos Paraná. Ali muitos artistas da música costumavam reunir-se e foi onde se lançaram em São Paulo Jorge Ben (depois Jorge Benjor) e Martinho da Vila.
Paulo Vaanzolini
A respeito de “Volta por Cima” o próprio Paulo Vanzolini fez o seguinte comentário: “Eu criei essa expressão por volta de 1959 ou 60 e ela tem me dado uma satisfação meio misturada porque por um lado você ter uma expressão que você inventou da sua cabeça no dicionário de Aurélio...Ninguém pode ficar infeliz com isso, né? Mas o dicionário não pegou bem o que eu queria dizer e se o dicionário não pegou bem, a culpa é minha. Porque quando eu dizia ‘dar a volta por cima’ não quer dizer só vencer as dificuldades mas é vencer com grandeza, vencer com generosidade, ser o ‘machão’absoluto...” Em 1969, o cineasta Glauber Rocha incluiu agravação de "Volta por cima", na voz de Noite Ilustrada no filme "O dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro", com o qual seria premiado como melhor diretor no Festival de Cannes. Em 2002, o samba "Volta por cima" foi regravado pelo cantor Roberto Silva, que então retornava às gravações, tendo inclusive, colocado o título do samba no CD. Esteve presente na trilha do filme “O dragão da maldade contra o Santo Guerreiro” (1969 – Noite Ilustrada) e da novela "Amor de Mãe (2020 - Maria Bethânia).
VOLTA POR CIMA (Paulo Vanzolini)
Chorei, não procurei esconder Todos viram, fingiram Pena de mim, não precisava Ali onde eu chorei Qualquer um chorava Dar a volta por cima que eu dei Quero ver quem dava Um homem de moral não fica no chão Nem quer que mulher Venha lhe dar a mão Reconhece a queda e não desanima Levanta, sacode a poeira E dá a volta por cima.
A toada "Viola Enluarada" é uma composição de 1967 dos irmãos Marcos Valle(14/09/1943) e Paulo Sérgio Valle (06/08/1940). Paulo Sergio foi responsável pela letra e Marcos pela melodia.
A canção representava bem o momento político vivido pelo país na década de 60, no qual grande parte das letras possuía um conteúdo político-social, criticando a estrutura social estabelecida.
A primeira gravação de "Viola Enluarada" ocorreu no LP de mesmo nome, onde a faixa-título foi gravada em dueto de Marcos Valle com Milton Nascimento.
A respeito de "Viola Enluarada" Marcos Valle relata:
"(...) quando voltei em 1968, eu estava com muitas saudades do Brasil, que estava vivendo aquele perído político difícil. O 'Viola Enluarada' é totalmente de protesto, e bem brasileiro mesmo. Foi quando eu conheci o Milton Nascimento, fizemos espetáculos e passamos dois anos trabalhando juntos. Eu e o meu irmão sempre fomos muito irriquietos, não gostávamos de ficar parados, fazendo a mesma coisa. Musicalmente eu sempre busco algo novo, estou atento ao que está acontecendo. Nas letras eu sempre quis provocar de alguma maneira, em termos políticos, como em 'Viola Enluarada'(...) "
VIOLA ENLUARADA (Marcos Valle / Paulo Sérgio Valle)
A mão que toca um violão Se for preciso faz a guerra, Mata o mundo, fere a terra. A voz que canta uma canção Se for preciso canta um hino, Louva à morte. Viola em noite enluarada No sertão é como espada, Esperança de vingança. O mesmo pé que dança um samba Se preciso vai à luta, Capoeira. Quem tem de noite a companheira Sabe que a paz é passageira, Prá defendê-la se levanta E grita: Eu vou! Mão, violão, canção e espada E viola enluarada Pelo campo e cidade, Porta bandeira, capoeira, Desfilando vão cantando Liberdade. Quem tem de noite a companheira Sabe que a paz é passageira, Prá defendê-la se levanta E grita: Eu vou! Porta bandeira, capoeira, Desfilando vão cantando Liberdade. Liberdade, liberdade, liberdade...
Esta é mais uma das jóias do poeta Noel Rosa (1910-1937). Incrível é notarmos que o jovem compositor morreu com apenas 26 anos mas deixou uma gama de belíssimas e inesquecíveis composições que enriqueceram a MPB. “Três Apitos” é uma composição de 1933.
"Nos seus tempos de estudante de Medicina, em 1931, Noel Rosa estava dividido entre dois amores. De um lado, Clara, a Clarinha, de Vila Isabel, que se dava com a mãe do poeta, e era vizinha do jovem sambista. Ela e Noel tinham um relacionamento de quatro anos, mas a cada ano, ela tinha cada vez mais dúvidas com relação aos reais sentimentos dele. Ela sabia de uma outra menina de quem o poeta gostava — Josefina. O curioso é que, sempre que achava que tudo estava perdido entre os dois, a jovem tinha o apoio de alguma irmã, que lhe inspirava confiança. Enquanto a relação com Clarinha era do tipo “namorou, é pra casar”, Josefina não lhe exercia qualquer pressão. Mas Josefina era a mais ciumenta das duas, e não gostava dos famosos “sumiços” do compositor pelo Rio de Janeiro. Enquanto Clara suportava o poeta com uma paciência de Jó, Fina ameaçava quebrar o violão de Noel se não se explicar. Fina e Noel faziam cena, mas se gostam. VIRAMUNDO Um dia, dona Iracema, a mãe de Fina, decidiu que todas deviam trabalhar. Ela e sua irmã, Bazinha, se empregaram em fábricas do Andaraí. A primeira, na Hachiya, indústria de botões, e a segunda, em numa fábrica de tecidos, a América Fabril — então, uma das mais importantes da velha Capital Federal. Constrangida com o emprego e com medo da marcação cerrada do Poeta da Vila, Josefina pediu aos seus familiares que não revelassem ao namorado o seu local de trabalho — até porque ela gostava de se sentir livre. Mas Noel era implacável: agora ele tinha comprado um carro, um velho Chandler preto, que apelidou com o singelo nome de Viramundo. Na verdade, o automóvel foi uma aquisição interessante. Para quem não sabe, além de cantor, Francisco Alves era agenciador de veículos. Aliás, o “Rei da Voz” foi o primeiro marqueteiro da nossa música. Como a parceria dele com a insuperável dupla Ismael Silva-Nílton Bastos (“Adeus”, “Se Você Jurar”) havia acabado, ele decidiu “alugar” Noel por uns tempos. Para tanto, o poeta assinaria um contrato segundo o qual teria que pagar as prestações do Chandler em... sambas fresquinhos! Cada samba composto era apresentado a Chico Viola, que abatia as prestações como promissórias. Agora, com o calhambeque, Noel podia estar mais perto de Fina. Só faltava descobrir em qual fábrica ela trabalha. Um dia, andando pelo Andaraí e suspirando debruçado sobre o volante do Viramundo, ele encontrou a jovem na multidão, caminhando como se corresse contra o tempo, na hora do almoço com a marmita debaixo do braço, próxima à entrada da Companhia América. Sem saber que Fina levava a marmita para Bazinha, ele concluiu que sua musa trabalhava na fábrica de tecidos. A partir de então, o poeta bateu ponto diariamente ali, no fim do expediente. Em seus arroubos apaixonados, Noel parecia ouvir silvos de um apito de fábrica. Na verdade, não eram nem da Hachiya, nem da América, mas sim da Confiança (de propriedade do pai de João de Barro, o Braguinha, amigo de Noel e parceiro musical em “As Pastorinhas”), que ficava perto da casa do compositor, em Vila Isabel. E foi com o silvo matinal da fábrica que o apaixonado sambista compôs uma de suas mais belas composições, “Três Apitos”: Quando o apito Da fábrica de tecido Vem ferir os meus ouvidos Eu me lembro de você Mas você anda Sem dúvida bem zangada Ou está interessada em fingir que não me vê Você que atende ao apito De uma chaminé de barro Por que não atende ao grito Tão aflito Da buzina Do meu carro? Na verdade, o som do apito é licença poética de Noel, que utiliza o estrépito para enfeixar em sua memória a lembrança da amada sempre que o som “vem ferir os seus ouvidos”. Segundo Carlos Didier e João Máximo, biógrafos do compositor, a confusão toda se deve ao fato de que ele achava que Fina trabalhava na América, e ainda incluiu o apito da Confiança. Como muitos associavam a fábrica pelo toque do apito, pensava-se (e pensa-se) que ela trabalhava na Confiança. O caminho entre a casa de Josefina e Bazinha e a fábrica era longo, o que obrigava as duas a madrugarem para chegar a tempo no trabalho. Elas percorriam todo o percurso juntas, às cinco da manhã, e às cinco da tarde, quando Fina voltava sozinha. Para um trabalho simples, elas usavam roupas simples, sapatos de salto baixo e sem meias — detalhe que não passou desapercebido a Noel, que as via passar, com os olhos cerrados sob o chapéu, observando de longe e quase incógnito, dentro daquele carro velho e com a pintura descascada, o longo e tortuoso passeio que sua namorada fazia de casa até o trabalho. Ele se enterneceu de vê-la tentando esconder dele que a jovem trabalhava numa reles fábrica de botões de osso e madrepérola e a entendeu. E escreveu: Você no inverno Sem meias vai pro trabalho Não faz fé com agasalho Nem no frio você crê Mas você é mesmo Artigo que não se imita Quando a fábrica apita Faz réclame de você O POETA MUITO SOTURNO Mais aflito do que o grito da buzina do Viramundo era Noel, ao ver Fina desacompanhada e quase sempre à mercê do assédio de um certo contramestre da fábrica, Jerônimo da Encarnação, que sempre tentava puxar conversa com a moça. Noel tanto insistiu com a jovem que ela finalmente cedeu, e contou onde trabalhava. Então ele se deu conta do engano. Era na Hachiya e não na América! Aqui, ele anotou mais quatro versos ao samba: Nos meus olhos você lê Como eu sofro cruelmente Com ciúmes do gerente Impertinente Que dá ordens A você O contramestre cercava Josefina com indisfarçada insistência, com propostas e galanteios. Ela se esquivava, apontava para aquele calhambeque parado longe, no outro lado da esquina, e dizia ao homem: “Olha lá o seu poetinha. Ele está te esperando...”. Era Noel, o “malandro medroso”, mas sempre vigilante e quase incógnito, cuidando os passos da menina em marcação cerrada, por detrás do volante do seu inefável Chandler. Sou do sereno Poeta muito soturno Vou virar guarda-noturno E você sabe por quê Mas você não sabe Que enquanto você faz pano Faço junto do piano Esses versos pra você. No fim, ele permaneceu no equívoco em favor da rima pano/piano, já que ela fazia botões. Porém, mesmo com tanta confusão, o certo é que “Três Apitos” foi dedicada a Josefina. Noel Rosa revelou, em 1936, que este samba resumia o “romance mais sincero de minha vida gloriosamente romântica”. Ele diz “que outra operária de fábrica se encaixaria nesta canção”. O dado curioso sobre “Três Apitos” é que, talvez por ser confessional demais (ou romântica demais. Ou confusa demais), Noel resolveu pôr defeitos na canção. Mesmo com achados poéticos diversos (até para uma época em que o gênero samba ainda lutava para se livrar de versos simplórios), o poeta acreditava justamente o contrário. Já o piano em questão também era mais uma licença poética de Noel, que como “pianeiro”, era um grande violonista. Por conta do “desprezo” do poeta por “Três Apitos”, ela permaneceu inédita por muitos anos. Chegou a ser gravada na época em acetato por Orlando Silva (verdadeiro achado, catalogado na coletânea Noel Rosa — O Poeta da Vila, da gravadora Revivendo) em 1936, mas com versos a menos. A primeira versão “oficial” ocorreria apenas em 1951, na voz de Aracy de Almeida — cantora para quem ele dedicou a música, na época. Localizada por uma emissora de TV em 1984, Josefina disse: "Noel para mim fez apenas o 'Três Apitos', apesar de, em um dia de pileque, ter dito que eu tinha um riso de criança" (“Riso de Criança” era outra composição do Poeta, também supostamente inspirada por Fina). Aracy, que teve a primazia de levar o nostálgico samba em disco, revelou: — Noel fez esse samba na Taberna da Glória, na hora, e me deu. Foi para mim que ele fez esse samba. Ele também fez música para mim. Contudo, para alguns críticos, a mais bela versão de “Três Apitos” é a de Maria Bethânia, gravada em 1965, com Rosinha de Valença ao violão, em estilo intimista, bem como pede a letra. Mas, e quanto aos tais três apitos? O maestro Homero Dornellas (aquele que botou na pauta o primeiro sucesso de Noel, “Com que Roupa?”, já que o compositor não sabia ler música), contou que, ao invés de três, a fábrica apitava nove vezes ao dia. Carlos Didier e João Máximo explicam: certamente que o título se refere aos que a Confiança soava pela manhã. O primeiro, às quinze para as seis, para acordar os operários da redondeza. O segundo, às sete, o mais longo, que marcava a hora da entrada. E o terceiro às quinze para as oito, para os retardatários..."
(Extraído de www.rabisco.com.br - texto de autoria de Marcelo Xavier)
TRÊS APITOS ( Noel Rosa)
Quando o apito da fábrica de tecidos Vem ferir os meus ouvidos, eu me lembro de você Mas você anda, sem dúvida bem zangada Pois está interessada, em fingir que não me vê Você que atende ao apito, de uma chaminé de barro Porque não atende ao grito tão aflito da buzina do meu carro Você no inverno, sem meias vai pro trabalho Não faz fé no agasalho Nem no frio você crê Mas você é mesmo artigo que não se imita Quando a fábrica apita Faz reclame de você Nos meus olhos você lê Como eu sofro cruelmente Comciúmes do gerente impertinente que dá ordens à você Sou do sereno poeta muito soturno Vou virar guarda noturno E você sabe porquê Você só não sabe Que enquanto você faz pano Faço junto do piano esses versos pra você Esses versos pra você, esses versos pra você .
A música é uma composição de Chico Buarque (1944) e o moçambicano Ruy Guerra(1931) e foi interpretada por grandes nomes da MPB, tendo ainda gravações em espanhol sob o título “Tatuaje”. É considerada por muitos uma das mais belas canções de Chico Buarque.
A canção foi composta especialmente para o musical “Calabar, o Elogio da Traição”(1973), de Ruy e Chico, dirigido por Fernando Peixoto. Em 20 de outubro de 1974, o general Antônio Bandeira, da Polícia Federal, sem motivo aparente, proibiu a peça, proibiu o nome Calabar do título e, como se não bastasse, ainda proibiu que a proibição fosse divulgada. Seis anos mais tarde, uma nova montagem estrearia, desta vez, liberada pela censura. Mais das curiosidades ligadas a este espetáculo é que o LP “Chico Buarque Canta Calabar”(1973), que o compositor lançou para sanar o prejuízo, foi boicotado parcialmente. A capa do LP foi submetida a outro projeto gráfico: capa branca, e o título esquisito: “Chico Canta”. O que Chico cantava? Letras em pedaços.
Algumas de suas músicas são censuradas. Para driblar a censura, cria o personagem heterônimo Julinho da Adelaide. A artimanha dá certo e as canções Acorda, Amor, Jorge Maravilha e Milagre Brasileiro passam sem grandes problemas pela censura. Julinho da Adelaide concede ao escritor e jornalista Mario Prata uma longa entrevista para o jornal Última Hora. O público só tomaria conhecimento da verdade por meio de uma reportagem publicada em 1975 pelo Jornal do Brasil.
Foi lançado ainda, pela Civilização Brasileira o livro Calabar, o Elogio da Traição
TATUAGEM
Composição: Chico Buarque - Ruy Guerra
Quero ficar no teu corpo Feito tatuagem Que é prá te dar coragem Prá seguir viagem Quando a noite vem...
E também prá me perpetuar Em tua escrava Que você pega, esfrega Nega, mas não lava...
Quero brincar no teu corpo Feito bailarina Que logo se alucina Salta e te ilumina Quando a noite vem...
E nos músculos exaustos Do teu braço Repousar frouxa, murcha Farta, morta de cansaço...
Quero pesar feito cruz Nas tuas costas Que te retalha em postas Mas no fundo gostas Quando a noite vem...
Quero ser a cicatriz Risonha e corrosiva Marcada a frio Ferro e fogo Em carne viva...
Corações de mãe, arpões Sereias e serpentes Que te rabiscam O corpo todo Mas não sentes...
TATUAJE (Chico Buarque/Ruy Guerra)
Quiero quedarme en tu cuerpo como un tatuaje para darte coraje para seguir el viaje cuando la noche viene. Y también para perpetuarme en tu esclava que tu cojes, frotas, niegas pero no limpias.
Quiero jugar en tu cuerpo como bailarina que luego te alucina, salta y te ilumina cuando la noche viene Y nuestros musculos exhaustos de tu brazo descansa débil, mustia, harta, muerta de cansancio.
Quiero pesar como una cruz en tus costas que te corta en lugares pero en el fondo te gusta cuando la noche viene Quiero ser la cicatriz risueña y corrosiva marcada a frio, a hierro y fuego en carne viva.
Corazones de madre, arpones, sirenas y serpientes Que te dibujan por todo el cuerpo mas no sientes...
Música composta por Chico Buarque (1944- ) e Francis Hime(1939- ). Em sua letra descreve com exatidão o fim de um relacionamento amoroso, a partilha dos bens, a dificuldade de se buscar a identidade pessoal após uma entrega amorosa. A letra é de uma poesia ímpar e muitos se identificam com alguns versos que traduzem com fidelidade o fim de um caso amoroso.
A música esteve presente nas trilhas sonoras das novelas “O Astro” (1977-1978 - Francis Hime) e "Os Gigantes" (1979 - Emílio Santiago). Foi executada também na novela “Vidas Opostas” (2006-2007 - Cláudio da Matta).
TROCANDO EM MIÚDOS Composição: Chico Buarque & Francis Hime
Eu vou lhe deixar a medida do Bonfim Não me valeu Mas fico com o disco do Pixinguinha, sim! O resto é seu
Trocando em miúdos, pode guardar As sobras de tudo que chamam lar As sombras de tudo que fomos nós As marcas de amor nos nossos lençóis As nossas melhores lembranças
Aquela esperança de tudo se ajeitar Pode esquecer Aquela aliança, você pode empenhar Ou derreter
Mas devo dizer que não vou lhe dar O enorme prazer de me ver chorar Nem vou lhe cobrar pelo seu estrago Meu peito tão dilacerado
Aliás Aceite uma ajuda do seu futuro amor Pro aluguel Devolva o Neruda que você me tomou E nunca leu
Eu bato o portão sem fazer alarde Eu levo a carteira de identidade Uma saideira, muita saudade E a leve impressão de que já vou tarde.
A moda "Tristeza do Jeca" foi composta por Angelino de Oliveira (1888-1964) ainda no início do Século XX. Ela contribui para formar a imagem do caipira paulista que, posteriormente, foi imortalizada por Mazzaropi em seus filmes.
É uma música que retrata de uma forma extremamente poética a vida simples do homem do campo, suas tristezas, ansiedades e simplicidade do caipira.
Mazzaropi(1912-1981) que tão bem encarnou a figura do Jeca Tatu, produziu e interpretou em 1961 “ A Tristeza do Jeca”, filme dirigido por Milton Amaral. A toada de Angelino de Oliveira fazia parte da trilha sonora, como não poderia deixar de ser. A música inclusive foi gravada pelo próprio Mazzaropi.
Sinopse do filme: Um simples e popular caipira chamado Jeca (Mazzaropi) é obrigado a se envolver em política quando os líderes da região, que estão competindo na eleição para prefeito da cidade, querem a todo custo seu apoio. Atrapalhado, Jeca faz propaganda para dois políticos ao mesmo tempo, provocando divertidas confusões. Primeiro filme colorido de Mazzaropi.
Segundo consta, o nome original da toada é “Tristezas do Jeca”, no plural, mas ela se popularizou mesmo com o título no singular. A música possui gravações extremamente variadas, indo de Zeca Balero, Luiz Gonzaga, Maria Bethânia e Caetano Veloso a Paulo Sérgio e Gilliard, dentre tantos outros.
Além do filme “Tristeza do Jeca”(1961), a música esteve também no filme “Os Dois Filhos de Francisco”(2005 - Maria Bethânia e Caetano Veloso) e nas novelas “O Cravo e a Rosa (2000 - Sergio Reis), Chocolate com Pimenta (2003 - Zezé di Camargo e Luciano), Sítio do Picapau Amarelo (2005 – Zezé di Camargo e Luciano)
TRISTEZA DO JECA (Angelino de Oliveira)
Nestes versos tão singelos Minha bela, meu amor Prá você quero contar O meu sofrer e a minha dor Sou igual a um sabiá Que quando canta é só tristeza Desde o galho onde ele está
Nesta viola canto e gemo de verdade Cada toada representa uma saudade
Eu nasci naquela serra Num ranchinho beira-chão Todo cheio de buracos Onde a lua faz clarão Quando chega a madrugada Lá no mato a passarada Principia um barulhão
Nesta viola, canto e gemo de verdade Cada toada representa uma saudade
Lá no mato tudo é triste Desde o jeito de falar Pois o Jeca quando canta Dá vontade de chorar
E o choro que vai caindo Devagar vai-se sumindo Como as águas vão pro mar.