A canção serviu como fundo musical para dois difíceis momentos da história brasileira - de exílio forçado ou voluntário - e ambos com a marca de Plutão.
Em dezembro de 1971 é lançado o disco Gal: Fa-Tal, a Todo Vapor. Com os tropicalistas Caetano Veloso e Gilberto Gil no exílio, isto é, em Londres, Gal Costa se transformara na voz deles e de outros "estrangeiros" no Brasil. E é com este disco que "Vapor Barato", de Waly Salomão e Jards Macalé, na voz de Gal, se torna uma espécie de "olha, aqui tá todo mundo muito vivo". Embora revelando um coração cansado.
Jards Macalé |
A ditadura militar corria solta no Brasil. Assim como em outros países da América Latina. O Ato Inconstitucional nº 5, o AI-5, que cerceara os direitos políticos e a liberdade de imprensa, comemorava três aninhos (13 de dezembro de 1968). Filhos do Brasil ou morriam misteriosamente nos subterrâneos do regime ou foram ou eram "convidados" a se retirar do país. "Vapor Barato" era uma espécie de recado para os generais e um cartão-postal além-mar.
Vinte e quatro anos depois essa mesma canção renasce para ilustrar outro período na história do Brasil: o do êxodo de inúmeros jovens ao exterior com o intuito de fugir do arrocho econômico que assolara o país.
Em 1995, Walter Salles lança o filme "Terra Estrangeira", no qual, com fotografia em preto e branco, passava a limpo os momentos do recente e colorido governo Collor. Em 1989, Fernando Collor de Melo tornara-se o primeiro presidente eleito por voto direto desde a ditadura militar. O Brasil, mergulhado numa inflação sem tamanho, elegia um quase desconhecido envolto numa aura de salvador. A sua falsa fama de caçador de marajás encorajou a população brasileira a creditar nele suas esperanças. Na primeira semana do seu mandato, a fim de solucionar os problemas financeiros do país, anuncia uma série de medidas, entre elas o confisco do dinheiro depositado em cadernetas de poupança. Era o começo de um verdadeiro pesadelo.
Vinte e quatro anos depois essa mesma canção renasce para ilustrar outro período na história do Brasil: o do êxodo de inúmeros jovens ao exterior com o intuito de fugir do arrocho econômico que assolara o país.
Em 1995, Walter Salles lança o filme "Terra Estrangeira", no qual, com fotografia em preto e branco, passava a limpo os momentos do recente e colorido governo Collor. Em 1989, Fernando Collor de Melo tornara-se o primeiro presidente eleito por voto direto desde a ditadura militar. O Brasil, mergulhado numa inflação sem tamanho, elegia um quase desconhecido envolto numa aura de salvador. A sua falsa fama de caçador de marajás encorajou a população brasileira a creditar nele suas esperanças. Na primeira semana do seu mandato, a fim de solucionar os problemas financeiros do país, anuncia uma série de medidas, entre elas o confisco do dinheiro depositado em cadernetas de poupança. Era o começo de um verdadeiro pesadelo.
Waly Salomão |
Após o confisco das cadernetas de poupança, os brasileiros recomeçaram a fuga do país, a fim de tentar a sorte. Os versos "e vou tomar aquele velho navio/ Eu não preciso de muito dinheiro/ E não me importa, honey" ganhavam outro contexto. E o destino de sempre: o estrangeiro. No caso do filme, mais especificamente, Portugal. "A língua é minha pátria/ e eu não tenho pátria: tenho mátria/ e quero frátria" (Caetano Veloso, em "Língua").
"Terra Estrangeira" não é um simples documentário. Muito menos um filme político, no sentido restrito do termo. Na verdade, trata da experiência humana em busca de um lugar existencial. Seja lá onde for. "Vapor Barato" surge no filme na voz da personagem Alex (Fernanda Torres), a capela, sem palco. A atriz revelou, inclusive, que a canção entrou no filme pela porta do inesperado. O diretor, ao ouvir Fernanda cantarolar a canção nos intervalos das filmagens, logo a incluiu em cena. Logo depois a canção vira sucesso com o grupo O Rappa.
Curioso que o filme retrate o envolvimento dos protagonistas com o tráfico de drogas e Vapor Barato seja o nome de um traficante entre tantos nos morros do Brasil. Embora o envolvimento dos primeiros possa ser entendido como uma questão de sobrevivência. Caetano Veloso faz referência ao traficante na canção Fora da Ordem ("Circuladô").
Se, em 1971, Vapor Barato, ao se referir ao terror dos anos anteriores, se tornou um marco entre as canções que iniciavam a trilha sonora em busca da volta dos direitos democráticos, em 1995 terapeutizava os desmandos da era Collor.
VAPOR BARATO
(Jards Macalé / Waly Salomão)
Oh, sim, estou tão cansado
Mas não pra dizer que eu não acredito mais em você
Com minhas calças vermelhas, meu casaco de general
Cheio de anéis, eu vou descendo por todas as ruas
E vou tomar aquele velho navio
Eu não preciso de muito dinheiro
E não me importa, Honey
Baby, baby, honey baby...
Oh, sim, eu estou tão cansado
Mas não pra dizer que estou indo embora
Talvez, eu volte, um dia eu volto
Mas eu quero esquecê-la, eu preciso
Oh, minha grande, oh, minha pequena
Oh, minha grande, minha pequena obsessão
Eu vou embora naquele velho navio
E não me importa, honey,
Baby, baby, honey baby...
Fonte: Constelar.com
"Terra Estrangeira" não é um simples documentário. Muito menos um filme político, no sentido restrito do termo. Na verdade, trata da experiência humana em busca de um lugar existencial. Seja lá onde for. "Vapor Barato" surge no filme na voz da personagem Alex (Fernanda Torres), a capela, sem palco. A atriz revelou, inclusive, que a canção entrou no filme pela porta do inesperado. O diretor, ao ouvir Fernanda cantarolar a canção nos intervalos das filmagens, logo a incluiu em cena. Logo depois a canção vira sucesso com o grupo O Rappa.
Curioso que o filme retrate o envolvimento dos protagonistas com o tráfico de drogas e Vapor Barato seja o nome de um traficante entre tantos nos morros do Brasil. Embora o envolvimento dos primeiros possa ser entendido como uma questão de sobrevivência. Caetano Veloso faz referência ao traficante na canção Fora da Ordem ("Circuladô").
Se, em 1971, Vapor Barato, ao se referir ao terror dos anos anteriores, se tornou um marco entre as canções que iniciavam a trilha sonora em busca da volta dos direitos democráticos, em 1995 terapeutizava os desmandos da era Collor.
VAPOR BARATO
(Jards Macalé / Waly Salomão)
Oh, sim, estou tão cansado
Mas não pra dizer que eu não acredito mais em você
Com minhas calças vermelhas, meu casaco de general
Cheio de anéis, eu vou descendo por todas as ruas
E vou tomar aquele velho navio
Eu não preciso de muito dinheiro
E não me importa, Honey
Baby, baby, honey baby...
Oh, sim, eu estou tão cansado
Mas não pra dizer que estou indo embora
Talvez, eu volte, um dia eu volto
Mas eu quero esquecê-la, eu preciso
Oh, minha grande, oh, minha pequena
Oh, minha grande, minha pequena obsessão
Eu vou embora naquele velho navio
E não me importa, honey,
Baby, baby, honey baby...
Fonte: Constelar.com
musica bacana inteligente e marcante de um periodo de muitas censuras e tiranias dos sr. militares da época, periodo de exilios de muitas pessoas.
ResponderExcluirMuito bom. Acabei conhecendo pelo rappa do que pela Gal, mas a sensação de melancolia e, profundidade é a mesma.
ResponderExcluirEsse vídeo Gal e Zeca, é lindo !
ResponderExcluirObrigado pela contribuição ao compartilhar as informações sobre essa canção esplêndida.
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