Este blog visa resgatar e/ou preservar pérolas da MPB. Buscamos enriquecer as informações com o histórico das canções e algumas informações que possam agradar aqueles que buscam aumentar sus conhecimentos sobre a fantástica música brasileira, bem como seus compositores e intérpretes.
"Triste Berrante" foi composta por Adauto Santos (1940-1999) e incluída em seu disco homônimo lançado em 1978.
Esta música, ícone do cancioneiro regional brasileiro, foi regravada por muitos artistas brasileiros, como as Irmãs Galvão e a dupla Pena Branca e Xavantinho.
Adauto Santos
Sucesso popular, também chegou à televisão como tema da novela "Pantanal" (1990 - Adauto Santos e Solange Maria), folhetim que fez enorme sucesso na tv brasileira.
TRISTE BERRANTE (Adauto Santos)
Já vai bem longe esse tempo bem sei Tão longe que até penso que eu sonhei Que lindo quando a gente ouvia distante O som daquele triste berrante E um boiadeiro a gritar Eiá! E eu ficava ali na beira da estrada Vendo caminhar a boiada Até o último boi passar Ali, passava boi, passava boiada tinha uma palmeira na beira da estrada onde foi cravado muito coração Mas sempre foi assim E sempre foi assim E sempre será O novo vem e o velho tem que parar O progresso cobriu a poeira da estrada E esse tudo que é o meu nada Hoje tenho que acatar E chorar Mas mesmo vendo gente, carros passando Meus olhos estão enxergando Uma boiada a passar. Pena Branca e Xavantinho
O samba em homenagem à cidade de Niterói foi composto em 1941 por Wilson das Neves (1936) e Ataulfo Alves (1909-1969).
Wilson das Neves
"Eu Não Sou Daqui" foi gravado originalmente por Aracy de Almeida e, posteriormente, por Cristina Buarque. Recebeu mais recentemente uma regravação da niteroiense Zélia Duncan.
Ataulfo Alves
EU NÃO SOU DAQUI (Eu Sou de Niterói) (Wilson das Neves / Ataulfo Alves)
Eu não daqui Eu sou de Niterói Sinto muito , mas não posso Aceitar o seu amor Na terra de Araribóia É que eu tenho quem me quer Passe bem, seja feliz, oi E até quando Deus quiser Juro, tenho compromisso Seu moço, preste atenção Do outro lado da Baía Empenhei meu coração Vou embora até loguinho Por favor, não leve a mal Estou em cima da hora A barca deu o sinal. Aracy de Almeida
"Pavão MIsterioso" foi composta pelo cearense Ednardo (1945) em 1974 e incluída na trilha sonora da novela "Saramandaia" (1976 e 2013), da TV Globo.
Ednardo
A canção foi composta com base na literatura de cordel e possui mais de 20 regravações, tanto no Brasil (Belchior, Elba Ramalho) como no exterior (Paul Mauriat). Lançada em plena vigência da ditadura militar em nosso país, possui uma crítica ferrenha ao autoritarismo e a ausência da liberdade individual.
O cordel no qual Ednardo baseou sua grande composição chama-se "O Romance do Pavão Misterioso", escrito por José Camelo de Melo Rezende, em 1923. Conta uma aventura aparentemente despretensiosa, mas de grande apelo popular, com raízes nos contos das Mil e uma Noites. "O Pavão Misterioso” possui 141 estrofes de seis versos (sextilhas) de sete sílabas (redondilha maior). É narrada a história da Condessa Creuza, a moça mais bonita da Grécia, conservada pelo pai trancada desde a infância no mais alto quarto de um sobrado.Uma vez no ano, a moça aparece por uma hora ao povo, que vem de longe, só para contemplar-lhe a beleza. Um retrato dela chega até a Turquia, onde mora Evangelista, que se apaixona pela bela figura da jovem. Dirigindo-se à Grécia, ele encomenda a um engenheiro um mecanismo alado – o Pavão Misterioso do título – a bordo do qual consegue chegar até o quarto da moça, raptando-a, depois de vários perigos e dificuldades.
A música é considerada sagrada pelos índios do Xingu nos rituais religiosos. Também usada por outros tantos como hino à liberdade, a beleza humana e sua capacidade de realizar a vida acima das aparentes impossibilidades.
PAVÃO MISTERIOSO (Ednardo)
Pavão misterioso Pássaro formoso Tudo é mistério Nesse seu voar Ai se eu corresse assim Tantos céus assim Muita história Eu tinha prá contar...(2x)
Pavão misterioso Nessa cauda Aberta em leque Me guarda moleque De eterno brincar Me poupa do vexame De morrer tão moço Muita coisa ainda Quero olhar...
Pavão misterioso Meu pássaro formoso Tudo é mistério Nesse seu voar Ai se eu corresse assim Tantos céus assim Muita história Eu tinha prá contar...
Pavão misterioso Meu pássaro formoso No escuro dessa noite Me ajuda, cantar Derrama essas faíscas Despeja esse trovão Desmancha isso tudo, oh! Que não é certo não...
Pavão misterioso Meu pássaro formoso Um conde raivoso Não tarda a chegar Não temas minha donzela Nossa sorte nessa guerra Eles são muitos Mas não podem voar...
"Jura Secreta" é uma composição de Abel Silva (1945) e Sueli Costa (1943).
Abel Silva
Mesmo tendo ocupado quartos de frente do legendário Solar da Fossa e, anos depois, sido vizinhos em Ipanema, Sueli Costa e Abel Silva jamais haviam feito um música juntos antes de “Jura Secreta”. Foi Abel quem procurou Sueli, por meio de uma carta com uma letra da qual nasceria esta canção. Como grande parte do que se escrevia na ocasião, a letra expunha de forma metafórica reflexões sobre o amordaçamento geral imposto pela ditadura. Eram versos estranhos, aparentemente contraditórios, que afirmavam negações e negavam afirmações: “Só uma coisa me entristece/ o beijo de amor que eu não roubei/ (...)/ nada do que eu quero me suprime/ do que por não saber inda não quis/ (...)/ só o que me cega, o que me faz infeliz/ é o brilho do olhar que não sofri/ (...)/ só uma palavra me devora/ aquela que o coração não diz...” Nestes dois últimos versos, o âmago do poema, Abel na se referia uma palavra específica, mas ao (não) uso da palavra, ou seja, ao silêncio involuntário.
Sueli Costa
Lida a carta, Sueli sentiu no primeiro momento como deveria ser a melodia, compondo de estalo a terna canção, que seria levada com outras inéditas para Maria Bethânia, na época preparando o show “Pássaro da Manhã”, no Teatro da Praia. Todavia, como Bethânia optou por “Coração Ateu”, gravado por ela em 75, Sueli pôde então atender Simone, que selecionava repertório para um novo disco e acabou escolhendo “Face a Face” e “Jura Secreta”.
A gravação de “Jura Secreta” foi atribulada, tendo acontecido duas tentativas, uma com um grupo de músicos, a outra com dois violões, ambas frustrantes, o que deixou Simone tão perturbada que chegou a menosprezar a letra de Abel. Daí os ânimos só viriam a serenar com uma intervenção de Gozaguinha, seguida da sugestão de Sueli, para que a cantora gravasse apenas com o teclado de Gilson Peranzzetta, que criaria para a composição um acompanhamento bluesy ao piano Fender. Logo na primeira tentativa Simone chegou a se engasgar de emoção, prevalecendo a segunda, que acabou sendo o grande sucesso do álbum Face a face.
Isso foi uma surpresa para os incrédulos compositores que sabiam ser “Jura Secreta” uma dessas canções classificadas como difíceis na gíria musical. Sua leitura seria até recomendada por psiquiatras para ajudar seus pacientes no processo de auto conhecimento.
Tempos depois do lançamento, Simone diria o recado a Sueli que se tivesse composto “Jura Secreta” trocaria o título para “Auto Retrato”.
Entre as gravações desta canção destacam-se as da autora, no elepê Louça fina e a de Fagner, em Quem viver chorará, além da de Simone, naturalmente.
"Jura Secreta" esteve presente na trilha sonora das novelas: "Memórias de Amor" (Simone / 1979), "Da Cor do Pecado" (Zélia Duncan / 2004)
Fonte: A CANÇÃO NO TEMPO(Jairo Severiano e Zuza Homem de Melo)
JURA SECRETA (Sueli Costa e Abel Silva)
Só uma coisa me entristece O beijo de amor que não roubei A jura secreta que não fiz A briga de amor que não causei Nada do que posso me alucina Tanto quanto o que não fiz Nada que eu quero me suprime De que por não saber 'Inda não quis Só uma palavra me devora Aquela que meu coração não diz Sol que me cega O que me faz infeliz É o brilho do olhar Que não sofri. Simone - "Jura Secreta" / 1977
“Retalhos de Cetim” foi composto ao tempo em que Benito Di Paula(1941) morava no bairro paulistano da Bela Vista. Curiosamente, embora pianista Benito o compôs ao violão.
Lançado em um show que ele fazia no Teleco-Teco, “Retalhos de Cetim” agradaria em cheio os habituées da casa, entre os quais se incluíam os sambistas Ciro Monteiro e Monsueto.
Foi graças ao prestígio deste samba que Benito seria convidado a gravar na Copacabana, embora, paradoxalmente, a música escolhida para o compacto de estréia tenha sido “Ela”, mais tarde também gravada por Jair Rodrigues.
Desprezado por ser considerado muito romântico, “Retalhos de Cetim” só entraria no segundo compacto, iniciando de imediato sua escalada para o sucesso, que projetou o nome do autor no país e até no exterior, onde a composição ganhou gravações como as realizadas pela orquestra de Paul Mauriat e o guitarrista americano Charlie Byrd.
“Retalhos de Cetim” conta a história de um sambista que ensaia o ano inteiro, compra surdo, tamborim e uma fantasia de retalhos de cetim para uma cabrocha que jurou desfilar por ele(“Gastei tudo em fantasia / era só o que eu queria / e ela jurou desfilar por mim”). Mas, como a cabrocha não cumpre a promessa, Benito deu ao samba um tom lamentoso, o que de certa forma induz a participação da platéia nas pausas, uma das razões que o ajudaram a se popularizar: “Mas chegou (mas chegou) o carnaval (o carnaval) / e ela não desfilou / eu chorei na avenida, eu chorei / não pensei que mentia / a cabrocha que eu tanto amei.”
Fonte: MPB Cifrantiga.
RETALHOS DE CETIM (Benito Di Paula)
Ensaiei meu samba o ano inteiro, Comprei surdo e tamborim. Gastei tudo em fantasia, Era só o que eu queria. E ela jurou desfilar pra mim, Minha escola estava tão bonita. Era tudo o que eu queria ver, Em retalhos de cetim. Eu dormi o ano inteiro, E ela jurou desfilar pra mim. Mas chegou o carnaval, E ela não desfilou, Eu chorei na avenida, eu chorei. Não pensei que mentia a cabrocha,que eu tanto amei.
A música foi composta por Alberto Ribeiro (1902-1971), João de Barro, o Braguinha (1907-2006), e Lamartine Babo (1904-1963).
“Segundo o pesquisador Suetônio Soares Valença, a marcha "Cantores do Rádio" foi composta dentro de um ônibus, depois de uma noitada em que os três haviam perdido todo o dinheiro apostado no Cassino da Urca. Entusiasmado com a canção concebida no banco de trás do lotação, o trocador teria dispensado-os dos vinténs da passagem."
"Cantores do Rádio" representou a primeira e única vez na qual as irmãs Carmen e Aurora Miranda apareceram juntas em um filme. Elas interpretaram a canção, enorme sucesso gravado em 1936, no filme "Alo, Alo, Carnaval".
Além de estar presente na trilha sonora do filme "Alo, Alo Carnaval" ( Aurora e Carmen Miranda / 1936 ), esteve também na trilha do filme "Quando o Carnaval Chegar" ( Chico Buarque, Maria Bethânia e Nara Leão / 1972 ).
Fonte: Cliquemusic.
CANTORES DO RÁDIO ( Alberto Ribeiro / Braguinha / Lamartine Babo )
Nós somos as cantoras do rádio Levamos a vida a cantar De noite emabalamos teu sono De manhã nós vamos te acordar
Nós somos as cantoras do rádio Nossas canções, cruzando um espaço azul, Vão reunindo Num grande abraço Corações de norte a sul
Canto pelos espaços afora Vou semeando cantigas Dando alegria a quem chora
Canto pois sei Que a minha canção Faz estancar a tristeza que mora No teu coração
Canto pra te ver mais contente Pois a ventura dos outros É a alegria da gente
Canto e sou feliz só assim E agora peço que cantem Um pouquinho pra mim.
"Marcha da Quarta-Feira de Cinzas" foi composta em 1963 por Carlos Lyra (1936) e Vinícius de Moraes (1913/1980).
A melodia foi composta por Carlos Lyra. Vinícius de Moraes então colocou letra nesta pérola da MPB.
Composta antes de 1964, a “Marcha da Quarta-Feira de Cinzas” é assim uma espécie de protesto premonitório contra a realidade imposta pela ditadura militar. Pertence àquela fase inicial do CPC (Centro Popular de Cultura) em que Carlos Lyra incorpora à sua obra uma temática político-nacionalista, tendo sido feita no mesmo dia em que ele e Vinícius haviam concluído o “Hino da UNE” (“De pé a jovem guarda / a classe estudantil / sempre na vanguarda / trabalha pelo Brasil...”).
Mas, com sua mensagem disfarçada no lirismo melancólico de uma marcha-rancho, a composição pode ser considerada um belo exemplar do gênero música de protesto: “Acabou nosso carnaval / ninguém ouve cantar canções / ninguém passa mais brincando feliz / e nos corações / saudades e cinzas foi o que restou...” A passagem com o acorde de sétima maior de dó antecedendo a frase “e no entanto é preciso cantar”, após a pungente primeira parte, cria um momento mágico, na medida em que envolve a platéia inteira e a faz cantar suavemente embalada por um simples violão.
Um clássico de seu tempo, a “Marcha da Quarta-Feira de Cinzas” é uma daquelas raras canções capazes de encerrar com elevada dose de emoção um espetáculo musical. Embora consagrada pela voz de Nara Leão, teve sua gravação inicial por Jorge Goulart em fevereiro de 1963.
A canção fez parte da trilha sonora da novela "Fera Ferida" Vol.2 ( 1993/94 - Leila Pinheiro).
Fonte: A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34.
MARCHA DA QUARTA-FEIRA DE CINZAS ( Carlos Lyra / Vinícius de Moraes )
Acabou nosso carnaval Ninguém ouve cantar canções Ninguém passa mais brincando feliz E nos corações Saudades e cinzas foi o que restou
Pelas ruas o que se vê É uma gente que nem se vê Que nem se sorri Se beija e se abraça E sai caminhando Dançando e cantando cantigas de amor
E no entanto é preciso cantar Mais que nunca é preciso cantar É preciso cantar e alegrar a cidade
A tristeza que a gente tem Qualquer dia vai se acabar Todos vão sorrir Voltou a esperança É o povo que dança Contente da vida feliz a cantar
Porque são tantas coisas azuis E há tão grandes promessas de luz Tanto amor para amar De que a gente nem sabe
Quem me dera viver pra ver E brincar outros carnavais Com a beleza dos velhos carnavais Que marchas tão lindas E o povo cantando Seu canto de paz.