quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O Ciúme

“O Ciúme” é uma composição de Caetano Veloso (1942) de 1987. Foi gravada por Caetano no disco que recebeu o seu nome.

Na canção Caetano fala do Rio São Francisco (“o Velho Chico”) e trata da rivalidade entre as cidades vizinhas de Juazeiro (Bahia) e Petrolina (Pernambuco) :

“Dorme o sol à flor do Chico, meio-dia
Tudo esbarra embriagado de seu lume
Dorme ponte, Pernambuco, Rio, Bahia
Só vigia um ponto negro: o meu ciúme”

Na letra da canção Caetano dialoga com o poema “Motivo” de Cecília Meireles. Os versos de Caetano: “quem nem alegre, nem triste, nem poeta / entre Petrolina e Juazeiro canta”.

E os versos de Cecília::
“Eu canto porque o instante existe
e a minha vida esta completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.”

Caetano Veloso

Caetano Veloso cantou lindamente o ciúme, sua “tenebrosa sombra”. Como poeta, melhor do que qualquer estudioso, ele captou seu sentido e anteviu seu alvo principal: o próprio sujeito ciumento. Pensando atingir o outro, o ciumento acaba isolado e calado, pois o ciúme, além de cego e de cegar, ele cala. Algo não pôde e não pode ser dito. O ciumento sofre com o sentimento com o qual se vê “ferido justo na garganta”, como bem “poetisou” Caetano.

A seguidora do blog Sonia Brito colaborou com a informação que segue: "Caetano estava viajando para Salvador e parou em um bar as margens do Rio São Francisco. Sentou -se é em cima da mesa estava um jornal com uma manchete dizendo que uma mulher tinha sido morta por uma facada na garganta pelo seu marido. Ele ficou consternado com mais uma história de violência doméstica e o autoritarismo machista. Acho que a historia é essa..."


O CIÚME
(Caetano Veloso)

Dorme o sol à flor do Chico, meio-dia
Tudo esbarra embriagado de seu lume
Dorme ponte, Pernambuco, Rio, Bahia
Só vigia um ponto negro: o meu ciúme

O ciúme lançou sua flecha preta
E acertou no meio exato da garganta
Quem nem alegre nem triste nem poeta
Entre Petrolina e Juazeiro canta
Velho Chico vens de Minas

De onde o oculto do mistério se escondeu
Sei que o levas todo em ti, não me ensinas
E eu sou só, eu só, eu só, eu
Juazeiro, nem te lembras dessa tarde
Petrolina, nem chegaste a perceber
Mas, na voz que canta tudo ainda arde

Tudo é perda, tudo quer buscar, cadê
Tanta gente canta, tanta gente cala
Tantas almas esticadas no curtume
Sobre toda estrada, sobre toda sala
Paira, monstruosa, a sombra do ciúme.




























12 comentários:

  1. “Como ciumento sofro quatro vezes: porque sou ciumento, porque me reprovo de sê-lo, porque temo que meu ciúme machuque o outro, porque me deixo dominar por uma banalidade: sofro por ser excluído, por ser agressivo, por ser louco e por ser comum.”
    Roland Barthes

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  2. Gostaria que alguém informasse se além do Rio São Francisco existe pessoas que fazem parte da história contada nessa música.

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Sim...Caetano estava viajando para Salvador e parou em um bar as margens do Rio São Francisco. Sentou -se é em cima da mesa estava um jornal com uma manchete dizendo que uma mulher tinha sido morta por uma facada na garganta pelo seu marido. Ele ficou consternado com mais uma história de violência doméstica e o autoritarismo machista. Acho que a historia é essa...

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    3. Muito obrigado poe sua valiosa contribuição, Sonia. Ja a incluimos! Abraços!

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  3. Como é reconfortante saber que ainda temos pessoas empenhadas na divulgação de preciosidades.

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  4. Essa música é linda! Percebo em seu ritmo o movimento incontrolável, lento e constante do rio como o do ciúme.Parabéns pela escolha.

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  5. Amei! Estava procurando um blog assim!
    Parabéns!!!!

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  6. Ao meu tio Edvan que é músico adora MPB. Um abraço. Do Sobrinho.

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