quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Codinome Beija Flor

É uma composição do trio Cazuza (1958/1990) , Reinaldo Árias (1951) e Ezequiel Neves (1935/2010) .

Em 1985 Cazuza gravou “Exagerado”, seu primeiro álbum solo após a saída do grupo “Barão Vermelho”. Além da faixa-título, o grande destaque do disco foi a música “Codinome Beija-flor”. Essa belíssima canção, além de surpreender os roqueiros da época com seu arranjo à la bossa nova, chamou a atenção por alguns versos que até hoje intrigam os ouvintes: “Que só eu que podia / Dentro da tua orelha fria / Dizer segredos de liquidificador”. O que cargas d’água Cazuza queria dizer com a expressão “segredos de liquidificador”?

Cazuza

Teses e teses a respeito do seu significado pululam pela Internet. Segundo Valdir Mengardo, é uma metáfora que pretende mostrar a “incompatibilidade entre a sociedade de consumo e a poesia”. Já Fernando Toledo considera que a expressão é o “equivalente urbano/industrializado para “segredo de polichinelo”. E explica a sua viagem: “Simplesmente não existem liquidificadores sutis. Os bichos fazem um barulho dos diabos quando acionados. Logo, seria um segredo que não seria um segredo.”
Os participantes do Yahoo Respostas dão explicações mais rasteiras. Um deles afirma: “faltou uma boa rima para “beija-flor”. Parece um desses casos em que o poeta não está nem um pouquinho inspirado e doido para acabar a letra. Tal como acontece (com todo respeito a Gilberto Gil), na letra de rimas ridículas de “Sítio do Pica Pau Amarelo”. Outro internauta sem muita noção (des)explica: “Acho que Cazuza tava drogado quando disse isso, deve ter enfiado a mão dentro do liquidificador.”
Depois dessas abobrinhas, não há nada mais esclarecedor do que ouvir a voz do poeta. Pouco antes de cantar “Codinome Beija-flor” em um dueto com Simone, durante um especial exibido pela TV Globo em 1989, o ex-vocalista do Barão diz que a expressão se refere a “uma coisa de língua no ouvido”, exemplificando, com a própria língua, os movimentos circulares que dão sentido à metáfora.

Reinaldo Árias

Mas enfim, como verso bom é aquele que permite as mais diversas leituras, independentemente das eventuais explicações dadas pelo próprio poeta, fico com a explicação cunhada Luccia, em seu blog “Doce Lucidez”: “Segredos contados ao pé do ouvido que causam aquele tremor no corpo, como um liquidificador.” Alguém arrisca tecer uma definição melhor?

Ezequiel Neves

A metáfora de Cazuza é tão expressiva que foi reaproveitada na letra de outra música, “Carnalismo”, faixa 7 do álbum dos “Tribalistas”, dos versos: “Me abraça e me faz calor/ Segredos de liquidificador/ Um ser humano é o meu amor/ De músculos, de carne e osso/ Pele e cor.”

(Extraído do blog “Pensar enlouquece, pense nisso”, de Alexandre Inagaki)

Ezequiel Neves e Cazuza

A canção esteve presente na trilha sonora da novela “O Dono do Mundo” (1991/1992 - Luiz Melodia).

CODINOME BEIJA-FLOR
(Cazuza / Reinaldo Árias / Ezequiel Neves)

Pra que mentir
Fingir que perdoou
Tentar ficar amigos sem rancor
A emoção acabou
Que coincidência é o amor
A nossa música nunca mais tocou...

Pra que usar de tanta educação
Pra destilar terceiras intenções
Desperdiçando o meu mel
Devagarzinho, flor em flor
Entre os meus inimigos, beija-flor

Eu protegi o teu nome por amor
Em um codinome, Beija-flor
Não responda nunca, meu amor
Pra qualquer um na rua, Beija-flor

Que só eu que podia
Dentro da tua orelha fria
Dizer segredos de liquidificador

Você sonhava acordada
Um jeito de não sentir dor
Prendia o choro e aguava o bom do amor
Prendia o choro e aguava o bom do amor .





































3 comentários:

  1. Seus bobalhoes ... nunca namoraram ... nao sabem o q quer dizer os versos ;)

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  2. Seus bobalhoes ... nunca namoraram ... nao sabem o q quer dizer os versos ;)

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  3. EU, FICO COM ESSA INTERPRETAÇÃO DO BLOG "INTERPRETO, LOGO EXISTO", POIS COMPORTATILHO COM SUA INTERPRETAÇÃO:
    " Pra que mentir
    Fingir que perdoou
    Tentar ficar amigos sem rancor?
    A emoção acabou
    Que coincidência é o amorA nossa música nunca mais tocou...(Começamos percebendo que há uma ruptura, aqui. O término de um relacionamento... e o eu-lírico não aceita muito bem esse término. Sabe, quando dizem: "vamos ser só amigos, espero que você esteja bem..." ele não acredita nisso. Depois de um relacionamento, há, claro, um distanciamente inevitável e um sentimento ruim.)

    CONTINUANDO:
    "Não adianta fingir, mentir, falar de perdão, ficar amigo..." Quando diz que a música nunca mais tocou, é, como disse anteriormente, que a emoção acabou... nunca mais sentiram coisas boas um pelo outro.
    "Pra que usar de tanta educação
    Pra destilar terceiras intenções
    Desperdiçando o meu mel
    Devagarzinho, flor em flor
    Entre os meus inimigos, Beija-flor"..
    Aqui, ele expressa que nem ser educado, vale. Pois as intenções reais não tem como enganar. E começa a usar o beija-flor como vocativo e em maiúsculo. Usa justamente Beija-flor, pois já diz que ele, devagarzinho, desperdiçando o seu mel... Como o Beija-flor alimenta-se de néctar, de flor em flor, ele faz essa alusão. Quer dizer, o seu apaixonado sugou todo o amor, e ainda sugou de outros... esses outros se tornaram os inimigos, pois seu amado além de amar ele, amava outros.

    "Eu protegi teu nome por amor
    Em um codinome, Beija-flor"
    Aqui, ele admite que usou o Beija-flor como codinome do amado.
    Dizem que Cazuza se referia ao Ney Matogrosso, pois eles tiveram um relacionamento oculto e só foi retratado depois da morte de Cazuza pela sua mãe, em um livro. Como eles deveriam manter segredo, Cazuza usava o Beija-flor como codinome de Ney.

    "Não responda nunca, meu amor
    Pra qualquer um na rua, Beija-flor..."
    Aqui, acredito que ele pede para o seu "Beija-flor" que nunca responda à qualquer um na rua, ou seja, que não se renda à qualquer um... Alguns dizem que fala de prostituição, para não se render à prostitutas e tal, mas sei lá, né... não acredito nessa interpretação um pouco mais "suja" :)

    "Que só eu que podia
    Dentro da tua orelha fria
    Dizer segredos de liquidificador..."
    Aqui ele lembra quando eles já foram mais íntimos, quando "só ele podia"...
    Segredos de liquidificador nos leva a imagem de segredos turbulentos, barulhentos, muitas coisas juntas, misturadas... ou seja, lembra de quando todos seus segredos, por mais loucos e de todos os tipos fossem, eram compartilhados... É uma metáfora bem diferente, bem "difícil"... mas bem extraordinária! Cazuza é Cazuza, né... não tem como esperar uma composição simplória dele.

    Você sonhava acordada
    Um jeito de não sentir dor
    Prendia o choro e aguava o bom do amor
    Prendia o choro e aguava o bom do amor...

    Uma das partes mais lindas, na minha opinião.

    Nos mostra que aquela pessoa que fica com muito medo de sofrer, acaba perdendo a emoção. Aquela pessoa que passa o relacionamento inteiro se guardando, se preservando, para não sofrer... acaba "guardando" o choro, evitando decepções, evitando tempestades em copos d'água etc, e "aguando" o bom do amor... Ou seja, fazendo perder a graça...
    Aguar = água.. han han... quando você coloca muita água num suco... não fica aguado, sem graça? Então.

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