quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Paralelas

É uma composição de Belchior (1946-2017), gravada inicialmente por Vanusa (1973) e posteriormente por Erasmo Carlos (1976).

A canção possui mais de uma versão. Após a gravação de Vanusa, Belchior fez algumas modificações na letra e, por isso, é possível encontrar gravações diferentes.
Trata-se de uma das mais belas e admiráveis interpretações de Vanusa.
O antológico sucesso integra um dos mais notáveis álbuns da cantora: o L.P. "Amigos Novos e Antigos" - 1975.
Vanusa foi a primeira artista a gravar esta canção, que fez parte da trilha sonora da novela "Duas Vidas"(1976) da Rede Globo.
Segundo Erasmo Carlos, os versos "E as borboletas...que tu vais" foram feitos para ele.

Belchior

A seguir uma análise da canção feita no blog "A pele em flor e minúcia", de Pedro R. Gregório.

De início, foi impossível para mim não notar o emprego preciso de PARALELAS como título desta música visto que esta palavra sintetiza com exatidão o que Belchior canta: uma estória sobre amores que passaram a viver alheios um ao outro, movidos por um orgulho infantil que os dividiu mesmo contra a vontade íntima dos mesmos, que agora sofrem com as lembranças dos instantes em que estiveram juntos, revivendo-as em seu cotidiano de tão viva forma que o Cristo Redentor, por exemplo, ganha nova face e o mar carrega agora novo nome (seja de um ou d'outro) ou ansiando inutilmente por esquecê-las durante o mesmo quando, diz a música, arrisca um a vida de todo sentido vazia "sobre um trevo a cem por hora" enquanto o outro busca cegar-se diante do que sente enquanto imerge ávido no trabalho, tudo em vão. No fim, para uma estória como esta só me resta frustração afinal não se sabe ao final da mesma o que acontece com ambos, mas o tom sofrido da canção me faz lembrar o quão "perversa é a juventude de um coração", fazendo-me imaginar apenas que só lhes restou viver por muito "o que é cruel, o que é paixão!"

PARALELAS
(Belchior)

Dentro do carro, sobre o trevo a cem por hora, oh! meu amor
Só tens agora os carinhos do motor
E no escritório em que eu trabalho e fico rico
Quanto mais eu multiplico diminui o meu amor
Em cada luz de mercúrio vejo a luz do seu olhar
Passas praças, viadutos, nem te lembras de voltar
De voltar, de voltar
No corcovado quem abre os braços sou eu
Copacabana esta semana o mar sou eu
Como é perversa a juventude do meu coração
Que só entende o que é cruel e o que é paixão
E as paralelas dos pneus n'água das ruas
São duas estradas nuas em que foges do que é teu
No apartamento, oitavo andar, abro a vidraça e grito
Grito quando o carro passa: teu infinito sou eu
Sou eu, sou eu.
















3 comentários:

  1. Belchior mudou a parte que diz na gravação com Vanusa: "E as borboletas do que fui pousam demais por entre as flores do asfalto em que tu vais". Para em sua interpretação: "Como é perversa a juventude do meu coração, que só entende o quê e cruel, o que é paixão." As duas versões são belíssimas. Um verdadeiro clássico da MPB.

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  2. Na versão original mesmo, gravada por Ednardo em 1972, o carro era um Karmann-Ghia...

    No Karmann-Ghia
    Pelo o trevo
    A cem por hora, ó, meu amor
    Só tens agora o carinho do motor

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  3. Muito bom ver e ouvir as diversas interpretações. Uma composição belíssima!

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