quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Pelo Telefone

A composição de 1916 é atribuída à dupla Donga, Ernesto Joaquim Maria dos Santos (1890 - 1974) e Mauro de Almeida (1882 - 1956).

Primeira composição classificada como samba a alcançar o sucesso, "Pelo Telefone" marca o início do reinado da canção carnavalesca. É a partir de sua popularização que o carnaval ganha música própria e o samba começa a se fixar como gênero musical.
Desde o lançamento, quando apareceram vários pretendentes à sua autoria, e mesmo depois, quando já havia sido reconhecida sua importância histórica, o "Pelo Telefone" seria sempre objeto de controvérsia, tornando-se uma de nossas composições mais polêmicas em todos os tempos.
Quase tudo que a este samba se refere é motivo de discussão: a autoria, a afirmação de que foi o primeiro samba gravado, a razão da letra e até sua designação como samba. Todas essas questões, algumas irrelevantes, acabaram por se integrar à sua história, conferindo-lhe mesmo um certo charme.

Donga

"Pelo Telefone" tem uma estrutura ingênua e desordenada: a introdução instrumental é repetida entre algumas de suas partes (um expediente muito usado na época) e cada uma delas tem melodias e refrões diferentes, dando a impressão de que a composição foi sendo feita aos pedaços, com a junção de melodias escolhidas ao acaso ou recolhidas de cantos folclóricos.
Outra versão, relatada por Donga a Ary Vasconcelos e ao jornalista E. Sucupira Filho, é a de que "Pelo Telefone" teria surgido de uma estrofe a ele transmitida por um tal Didi da Gracinda, elemento ligado ao grupo de Hilário Jovino.
Já Mauro de Almeida, que parece nunca ter-se preocupado em afirmar sua participação na autoria, declarou, em carta ao jornalista Arlequim, ser apenas o "arreglador" dos versos, o que corresponderia à verdade.
"Pelo Telefone" foi lançado em discos Odeon, em dezembro de 1916, simultaneamente pelo cantor Bahiano (foto) e a Banda da Casa Edison.
Em 1917, o samba Pelo Telefone se transformou no marco inicial da história fonográfica daquele gênero musical. Historiadores, porém já registraram, em suas pesquisas, gravações anteriores que podem ser reconhecidas como samba e que comprovadamente foram gravadas antes da composição assinada pela dupla Donga/Mauro de Almeida.
O sucesso comercial de Fred Figner e sua Casa Edison, no Rio de Janeiro, provocou o aparecimento de concorrentes no Brasil inteiro e uma variedade enorme de selos fonográficos surgiu. A maioria de vida curta, mas que acabou por contribuir culturalmente com a música popular brasileira e influir na instalação da indústria fonográfica no país.
Pelo Telefone tem o número de série 121313, mas anteriores a ele são ainda Chora, Chora, Choradô (121057), cantado por Bahiano, Janga (121165), com o Grupo Paulista, e Samba Roxo (121176), com Eduardo das Neves. O selo Columbia editou série entre 1908 e 1912, aparecendo nela como “samba” a gravação Michaella, interpretada por Bartlet; Quando a Mulher Não Quer, com Arthur Castro, e No Samba, gravado por Pepa Delgado e Mário Pinheiro. A Favorite Record gravava na Europa para a Casa Faulhaber do Rio de Janeiro, entre 1910 e 1913, e em seu catálogo se encontra a gravação Samba - Em Casa de Baiana, com o Conjunto da Casa Faulhaber, identificada na abertura como “samba de partido-alto”. O disco tem o título simples de Samba, sem indicação de intérprete ou autoria. O selo Phoenix também pertencia à família Figner. Gravou de 1914 a 1918 para a Casa Edison de São Paulo. Os sambas que nele aparecem são anteriores a 1915, ano da gravação 70.711(Flor do Abacate), como provam suas numerações: Samba do Urubu (70.589), com o Grupo do Louro, Samba do Pessoal Descarado (70.623), com o Grupo dos Descarados, Vadeia Caboclinha (70.691), com o Grupo Tomás de Souza, e Samba dos Avacalhados (70.693), com o Grupo do Pacheco, coro e batuque. Da mesma maneira como existem dúvidas quanto à verdadeira autoria de Pelo Telefone, não se pode concluir com inteira certeza qual o primeiro samba realmente gravado.

Mauro de Almeida

A história oral menciona vários autores para o samba Pelo Telefone, mas quando Donga fez seu registro na Biblioteca Nacional omitiu todos declarando ser seu único compositor. As primeiras partituras, ainda na ortografia da época, que grafava Telephone, exibiam apenas o nome de Donga. A grita que se seguiu não teve muitos resultados, mas pelo menos serviu para que Mauro de Almeida fosse reconhecido como um dos parceiros. O Peru dos Pés Frios, como era conhecido o jornalista carnavalesco, mesmo porque faleceu pouco tempo depois da gravação do samba, ficando todas as luzes apenas sobre Donga, que delas sempre soube tirar proveito pessoal.
O sucesso cercou "Pelo Telefone" de aspectos os mais variados, fugindo da simples conseqüência musical, de cair na preferência popular, no assobio das calçadas e na cantoria das festinhas de subúrbio. Logo um sem-número de pais-da-criança apareceu, cada um puxando a brasa para sua sardinha, todo mundo ignorando a iniciativa de Donga em registrar oficialmente sua autoria na Biblioteca Nacional.
Como se sabe, o samba vinha sendo cantado na casa de Tia Ciata de maneira informal, como partido alto com a participação da dona da casa, emérita partideira que com certeza introduziu nele seus improvisos, o mesmo fazendo seu genro Mestre Germano e o "ranchista" Hilário Jovino.
Da cantoria, lá pelo ano de 1916, participavam também Donga, o jornalista Mauro de Almeida - a quem Almirante credita a autoria indiscutível do samba -, João da Mata, o dono do refrão, e o conflituoso Sinhô, que como autor da frase "samba é como passarinho, está no ar, é de quem pegar", evidentemente tentou também se apossar da paternidade da novidade. Ironizando a atuação de Aurelino Leal, o novo chefe de policia do Rio de Janeiro, o samba teve seus versos fixados por Mauro de Almeida, que nem assim foi reconhecido como co-autor no registro da Biblioteca Nacional.
Cantado em público pela primeira vez (segundo Almirante) no Cinema Teatro Velo, à rua Haddock Lobo, na Tijuca, despertou de imediato a cobiça alheia e - com razão ou sem ela - contestações quanto à autoria de Donga pipocaram de todos os lados. A principal veio de Tia Ciata, criando uma briga que jamais chegou à reconciliação, com um anúncio publicado no Jornal do Brasil garantindo que no Carnaval de 1917, na avenida Rio Branco, seria cantado o "verdadeiro tango Pelo Telefone dos inspirados carnavalescos João da Mata, o imortal Mestre Germano, a nossa velha amiguinha Ciata, o bom Hilário, com arranjo do pianista Sinhô, dedicado ao falecido repórter Mauro", seguindo-se a letra com o nome de Roceiro, denunciando Donga nas entrelinhas: "Pelo telefone/A minha boa gente / Mandou avisar / Que meu bom arranjo / Era oferecido / Para se cantar - Ai; ai, ai / Leve a mão na consciência, / Meu bem / Ai, ai, ai / Mas porque tanta presença / meu bem? - O que caradura / De dizer nas rodas / Que esse arranjo é teu / E do bom Hilário / E da velha Ciata / Que o Sinhô escreveu - Tomara que tu apanhes / Para não tornar a fazer isso, / Escrever o que é dos outros / Sem olhar o compromisso".
Não faltaram também os aproveitadores, que na esteira do êxito da gravação de Bahiano correram atrás dos lucros que se imaginava para os autores de Pelo Telefone (Mauro de Almeida jamais recebeu um tostão de direitos...). Carlos Lima editou Chefe da Folia no Telefone; J. Meira registrou Ai, Si A Rolinha Sinhô, Sinhô e Maria Carlota da Costa Pereira se apresenta como autora de No Telefone, Rolinha, Baratinha & Cia.

Fonte: Cifrantiga3.blogspot.com

PELO TELEFONE
(Donga - Mauro de Almeida)

O chefe da folia,
Pelo telefone,
Mandou me avisar
Que com alegria
Não se questione
Para se brincar!

Ai, ai, ai!
Deixa as mágoas para trás,
Ó rapaz!
Ai, ai, ai, ai!
Fica triste se és capaz
E verás!

Tomara que tu apanhes!
Não tornes a fazer isso,
Tirar amores dos outros
Depois fazer teu feitiço!

Olha, a rolinha
(Sinhô! Sinhô!)
Se embaraçou
(Sinhô! Sinhô!)
Caiu no laço
(Sinhô! Sinhô!)
Do nosso amor
(Sinhô! Sinhô!)
Porque este samba
(Sinhô! Sinhô!)
É de arrepiar
(Sinhô! Sinhô!)
Põe perna bamba
(Sinhô! Sinhô!)
Mas faz gozar!

O chefe da polícia,
Pelo telefone,
Manda me avisar
Que, na Carioca,
Tem uma roleta
Para se jogar!
(bis)

Ai, ai, ai!...

Tomara que tu apanhes...

Olha a rolinha
(Sinhô! Sinhô!)
Se embaraçou
(Sinhô! Sinhô!)
É que a vizinha
(Sinhô! Sinhô!)
Nunca sambou
(Sinhô! Sinhô!)
Porque este samba
(Sinhô! Sinhô!)
É de arrepiar
(Sinhô! Sinhô!)
Põe perna bamba
(Sinhô! Sinhô!)
Mas faz gozar!

















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