terça-feira, 20 de novembro de 2012

Chão de Estrelas

“Chão de Estrelas”(1937) é uma composição de Sílvio Caldas (1908-1998) e Orestes Barbosa (1893 - 1966). O título original da canção era “Foste a Sonoridade que Acabou”. Numa visita ao poeta Guilherme de Almeida , em 1935, Silvio Caldas apresentou uma canção inédita, “Foste a Sonoridade que Acabou”. Terminada a canção a música recebeu o novo título de “Chão de Estrelas”. A mudança foi uma sugestão de Guilherme, entusiasmado com os versos de Orestes Barbosa.
Sobre o fato, ele escreveria trinta anos depois (em crônica incluída no livro Chão de Estrelas, de Orestes): "Nem de nome eu conhecia o autor. Mas o que então dele pensei e disse, hoje o repito: uma só dessas duas imagens - o varal das roupas coloridas e as estrelas no chão (... ) - é quanto basta para que ainda haja um poeta sobre a terra".

Mas não pára em Guilherme de Almeida o fascínio despertado por "Chão de Estrelas" entre nossos poetas. Em 1956, numa crônica em louvor a Orestes, Manuel Bandeira terminava assim: "Se se fizesse aqui um concurso (...) para apurar qual o verso mais bonito de nossa língua, talvez eu votasse naquele de Orestes: ‘tu pisavas os astros distraída..."'.
Composto por Sílvio Caldas sobre um poema em decassílabos - que Orestes relutou em consentir que fosse musicado -, "Chão de Estrelas" é a obra-prima da dupla, que produziu um total de quinze canções, a maioria de muito boa qualidade ("Quase Que Eu Disse", "Suburbana", "Torturante Ironia" etc.). Essas composições cantam amores perdidos ou impossíveis, tratados do ponto de vista masculino e quase sempre localizados em cenários urbanos arranha-céus, apartamentos, cinemas... Embora tenha se destacado no seu lançamento em 1937, "Chão de Estrelas" só se tornaria um sucesso nacional na década de 1950, quando Sílvio Caldas a gravou pela segunda vez.

Na cidade de Santos/SP Sílvio Caldas era tão adorado que existia inclusive uma casa noturna com o nome de “Chão de Estrelas”.

Esteve na trilha dos filmes “Wood & Stock – Sexo, Orégano e Rock’N Roll” (2006 – Flu) e “Sabor da Paixão” (1993 - Baden Powell) e na na novela “Carinhoso” (1973 – Marcio Montarroyos).



CHÃO DE ESTRELAS
(Silvio Caldas/Orestes Barbosa)

Minha vida era um palco iluminado
eu vivia vestido de dourado
palhaço das perdidas ilusões
cheio dos guizos falsos da alegria
andei cantando a minha fantasia
entre as palmas febris dos corações
meu barracão no morro do salgueiro
tinha o cantar alegre de um viveiro
foste a sonoridade que acabou
e hoje, quando do sol, a claridade
forra o meu barracão, sinto saudade
da mulher pomba-rola que voou
nossas roupas comuns dependuradas
na janela qual bandeiras agitadas
pareciam um estranho festival
festa dos nossos trapos coloridos
a mostrar que nos morros mal vestidos
é sempre feriado nacional
a porta do barraco era sem trinco
mas a lua furando nosso zinco
salpicava de estrelas nosso chão
tu pisavas nos astros distraída
sem saber que a ventura desta vida
É a cabrocha, o luar e o violão.

3 comentários:

  1. Peço desculpas antecipadamente, mas acho que há algumas divergências nessa letra. Tais como:
    1) - Faltou o LÁ no morro...
    2) - Não é forra mas BANHA meu barraco.....
    3) - Não é janela, mas CORDA....
    Um abraço A. Cunha 5/2016

    ResponderExcluir