terça-feira, 20 de novembro de 2012

Carinhoso

O choro-canção Carinhoso foi composto incialmente por Pixinguinha - Alfredo de Rocha Viana ( 1897-1973 ) apenas com melodia para sax, entre 1916 e 1917. Só bastante tempo depois, em 1937 a música ganhou letra, composta por João de Barro, o Braguinha - Carlos Alberto Ferreira Braga ( 1907-2006 ).

A música ficou inédita por mais de dez anos. A justificativa para tal fato é dada por Pixinguinha no depoimento que deu ao Museu da Imagem e do Som em 1968: “Eu fiz o ‘Carinhoso’ em 1917 . Naquele tempo o pessoal nosso da música não admitia choro assim de duas partes (choro tinha que ter três partes). Então, eu fiz o ‘Carinhoso’ e encostei. Tocar o ‘Carinhoso’ naquele naquele meio! Eu não tocava... Ninguém ia aceitar...”
Na época, com vinte anos, Pixinguinha não se atrevia a contrariar o esquema adotado nos choros da época

A música recebeu algumas críticas, julgando que era apenas um reflexo do Jazz e não uma música com aspecto nacional. Na época a música não foi considerada como um choro, mas sim como uma polca.
Em 1928 Carinhoso foi gravado apenas instrumentalmente pela "Orquestra Típica Pixinguinha-Donga".Sobre essa gravação, um crítico pouco versado em 'jazz' publicou o seguinte comentário na revista Phonoarte (nº 11, de 15/01/1929): "Parece que o nosso popular compositor anda sendo influenciado pelos ritmos e melodias do jazz. É o que temos notado desde algum tempo e mais uma vez neste seu choro, cuja introdução é um verdadeiro fox-trot e que no seu decorrer, apresenta combinações de música popular yankee. Não nos agradou."

Ainda sem letra, "Carinhoso" teria mais duas gravações. Apesar de três gravações instrumentais, "Carinhoso" ficava restrita às rodas de choro, sendo desconhecida do grande público até a década de 30.
Um fato casual, em outubro de 1936, iria contribuir de forma decisiva para que a música saisse do anonimato. Encenava-se naquele mês, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro o espetáculo 'Paradas das Maravilhas', promovido pela primeira-dama Darcy Vargas, em benefício da obra assistencial Pequena Cruzada. Uma das convidadas do evento, a cantora e atriz Heloísa Helena solicitou a seu grande amigo Braguinha que compusesse uma música que pudesse marcar sua presença no palco. Não tendo nenhuma música pronta na ocasião para o evento, acabou aceitando a sugestão de Heloísa Helena. Heloísa sugeriu que ele colocasse letra na bela melodia "Carinhoso", de Pixinguinha.
Conta Braguinha: "Procurei imediatamente o Pixinguinha, que me mopstrou a melodia num dancing (o Eldorado), onde estava atuando. No dia seguinte entreguei a letra à Heloisa, que muito satisfeita, me presenteou com uma gravata italiana." Surgiu assim, às carreiras, uma das mais belas obras da MPB.


Esta é uma das músicas consideradas como imortais e tem mais de 200 gravações, não só no Brasil bem como no exterior. A primeira gravação de "Carinhoso" cantada (com letra) é de Orlando Silva, 'o cantor das multidões'.
A música retorna com força total na década de 70 por ser o tema de abertura da telenovela homônima, estrelada por Regina Duarte e Cláudio Marzo

O apelido de Pixinguinha veio da junção de dois apelidos, Pizindim (pequeno bom) e bixiguinha (por ter tido a doença). Braguinha, adotou seu pseudônimo quando integrou o Bando dos Tangarás, ao lado de Noel Rosa, Alvinho e Almirante. Nesse grupo, todos tinham nomes de passarinho.

A música foi o tema de abertura da novela Carinhoso(1973/1974 - Márcio Montarroyos). Esteve ainda na trilha sonora da novela “Os Ricos Também Choram”(2005/2006 - Simone e Pixinguinha) e do filme “Paulinho da Viola – Meu Tempo é Hoje” (2003 - Paulinho da Viola e Marisa Monte)


CARINHOSO
(Pixinguinha – João de Barro)

Meu coração
Não sei porque
Bate feliz, quando te vê
E os meus olhos ficam sorrindo
E pelas ruas vão te seguindo
Mas mesmo assim, foges de mim
Ah! Se tu soubesses
Como sou tão carinhoso
E muito e muito que te quero
E como é sincero o meu amor
Eu sei que tu não fugirias mais de mim
Vem, vem, vem, vem
Vem sentir o calor
Dos lábios meus
À procura dos teus
Vem matar esta paixão
Que me devora o coração
E só assim então
Serei feliz, bem feliz

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